OLIMPÍADA 2020/21: Brasil ganha 1° medalha de ouro com o potiguar Ítalo Ferreira

Jonne Roriz/Jonne Roriz/COB



Quando Ítalo Ferreira pisou na praia de Tsugaraki, em Ichimoya, o sol estava brilhando alto no céu e o mar estava agitado. Depois de um dia inteiro de ondas fracas, a aproximação do tufão Nepartak criou o cenário ideal para a primeira final de surfe da história dos Olimpíadas. O japonês Kanoa Igarashi, seu adversário, se posicionou ao seu lado.




O brasileiro sentiu a areia escura e correu em direção ao oceano. Ele surfou a primeira onda, alta e volumosa, e foi derrubado quando ela começou a arrebentar. Na queda, foi engolido pelo mar e sumiu por alguns segundos. Quando voltou à superfície estava balançando os braços em direção à praia. A fúria do mar tinha partido sua prancha ao meio e ele pedia ajuda.

Não foi o começo de prova sonhado por Ítalo, potiguar de Baía Formosa que começou a surfar com a tampa do isopor que seu pai pescador usava para guardar peixes. O isopor costumava quebrar com facilidade na praia perto de sua casa e, quando isso acontecia, Ítalo precisava consertá-la com palitos de churrasco que encontrava na areia. Assim seu pai podia continuar trabalhando.

Agora, nas águas do Oceano Pacífico, sua prancha tinha dado perda total no pior momento possível. Igarashi, que tinha eliminado Gabriel Medina mais cedo com um aéreo desses de cinema, já estava pontuando. E os 30 minutos que separavam Ítalo do ouro olímpico já tinham virado 29.

"Perna machucada faz parte da brincadeira"

Depois que tudo aconteceu, depois que Ítalo substituiu sua prancha e surfou como vem surfando nos últimos anos, se mantendo em pé sobre a água com manobras que desafiam a lógica e a gravidade, é fácil olhar pra trás e dizer que tudo aconteceu como devia acontecer.

Ele logo conseguiu se recuperar do susto, encontrou uma onda contínua e potente e conseguiu uma nota 7. Virou sobre o japonês e nunca mais deixou a liderança. A vitória veio com 15,14 a 6,60, um verdadeiro passeio, se passear no mar fosse possível.

Não é coincidência que a primeira medalha de ouro do Brasil no Japão tenha vindo do surfe, esporte em que os brasileiros são os melhores do mundo. E, entre eles, Ítalo é agora o melhor.

Quando ele se aproximou dos jornalistas que o esperavam para a primeira entrevista como campeão olímpico, ele percebeu que muitos comemoravam e alguns choravam. "Eu vim com uma frase pro Japão: diz amém que o ouro vem. E veio", afirmou o sufista ainda na praia que o consagrou. "Fui pra dentro d'água sem pressão, fazendo o que eu amo."

Além da prancha quebrada, Ítalo teve que superar uma incômoda dor na perna que o fazia mancar levemente. "Estou com ela há alguns dias. Faz parte da brincadeira", disse ele mais cedo, minimizando a dor.


Tufão permitiu cenário ideal para primeira final olímpica

Quando o tufão Nepartak se aproximou do litoral japonês prometendo ventos de até 120 km por hora e muita chuva, o governo aconselhou a população a trancar portas e janelas, tirar o carro de perto de árvores, checar a validade do kit de emergência e informar sua localização a amigos e parentes, só pra garantir. Linhas de ônibus atrasaram, táxis pararam de circular e compromissos foram desmarcados.

Tufões são um problema. Mas não pra surfistas profissionais. Para eles, um tufão pode ser uma ótima notícia. Ao acordar, Ítalo encontrou o céu carregado de nuvens escuras e ventos fortes que agitaram o Pacífico bem na altura da praia onde mais tarde ele disputaria a medalha de ouro do primeiro torneio olímpico de surfe da história. Um ótimo dia para pegar onda.

Bem diferente da tarde anterior, quando um mar fraco prejudicou a competição. O swell de hoje permitiu a Ítalo, de 27 anos, campeão mundial de surfe em 2019, fazer o que ele sabe de melhor.


Ouro consolida "tempestade brasileira" e domínio nacional no surfe

Em 2011, a imprensa americana cunhou a expressão "brazilian storm" para descrever os jovens surfistas que despontavam no cenário internacional. E essa geração, sob a liderança de Gabriel Medina, que terminou o torneio olímpico em quarto lugar, acaba de ser coroada com o ouro de Ítalo.

Desde 2011, quando Medina fez a sua estreia na elite do surfe mundial, o circuito sempre esteve recheado de nomes brasileiros, como Adriano de Souza, o Mineirinho, Alejo Muniz, Miguel Pupo e Filipe Toledo.

Em 2014, Medina se tornou o primeiro brasileiro campeão mundial e quatro anos depois o Brasil já tinha a maioria na elite do esporte, com 11 participantes - contra oito da Austrália e seis dos Estados Unidos, além de quatro do Havaí, considerado um país à parte no surfe mundial.

Ajuda aos pais com os primeiros prêmios

Ao ser entrevistado após o título, Ítalo lembrou da correria que viveu quando o surfe ainda não era uma realidade na sua vida. Para participar de campeonatos, ele pedia dinheiro em hotéis e pousadas para completar a ajuda que seus pais lhe davam.

Ao ganhar seus primeiros prêmios, tentou retribuir o apoio de Luisinho, pescador, e Katiana, funcionária de uma pousada, e comprou pra eles uma casa. Também lembrou da sua vó, Mariquinha, que morreu enquanto ele surfava no Havaí.

"Não consegui me despedir dela. Sempre que eu ganhava um troféu, eu ia ao quarto dela mostrar. Quando chegar no Brasil, vou fazer o mesmo", afirmou o campeão.


Fonte: Uol 


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