Polícia prende cantor Belo no Rio por show não autorizado e com aglomeração

O cantor Belo

RIO - Em uma ação batizada com o título de um de seus sucessos, o cantor Marcelo Pires Vieira, o Belo, foi preso nesta quarta-feira (17) na Operação É o Que Eu Mereço, da Delegacia de Combate às Drogas (DCOD) da Polícia Civil do Rio. Ele fez um show no último dia 12 no Ciep 326 - Professor César Pernetta, no Complexo da Maré, na zona norte da cidade e que foi invadido para realização do evento. O espetáculo provocou aglomeração, o que está proibido durante a pandemia, para evitar contaminação. Foi o primeiro artista preso por causa desse tipo de iniciativa ilegal sob a epidemia de covid-19. Foram cumpridos quatro mandados de prisão preventiva e cinco de busca e apreensão, expedidos pela Justiça.

A prisão de Belo foi decretada no Plantão Judiciário do Tribunal de Justiça do Rio, na última terça-feira, 16, feriado de Carnaval, que foi mantido no Estado. O motivo da decisão judicial foi suposta infração de medida sanitária preventiva, no caso, para impedir a disseminação da covid-19. Teria sido tipificada nos artigos 267 (Causar epidemia, mediante a propagação de germes patogênicos, pena de dez a quinze anos de reclusão) e 268 (Infringir determinação do poder público, destinada a impedir introdução ou propagação de doença contagiosa, crime punido com um mês a um ano e detenção e multa) do Código Penal.

No processo, também foram denunciados Célio Caetano, Joaquim Henrique Marques Oliveira, conhecido como Rick, e Jorge Luiz Moura Barbosa, o Alvarenga. A Justiça ordenou ainda a realização das buscas e apreensões nos endereços dos acusados e o bloqueio das contas bancárias pessoais e da Série Gold Som e Iluminação. A empresa tem como sócios Célio e Rick. A Polícia Civil identificou a produtora, seus sócios e administradores como responsáveis pelo show, que durou até à manhã do sábado (13). Apesar de sua realização em uma escola estadual, o evento não teve autorização da Secretaria estadual de Educação do Rio.

"Houve grande aglomeração de pessoas e risco de propagação e contaminação da covid-19. O evento aconteceu na comunidade onde uma das maiores organizações criminosas do Rio de Janeiro atua", afirmou a Polícia Civil em nota. O Ciep fica na comunidade Parque União, área dominada pela facção criminosa Comando Vermelho.

"O ‘periculosidade in libertatis’ se impõe como forma de garantir a ordem pública a fim de evitar outros eventos desta natureza em plena pandemia, bem como a conveniência da instrução criminal, sendo que em liberdade os acusados podem causar dificuldades às investigações em curso, a exemplo, o fundado temor que estariam aptos a infundir no ânimo das testemunhas que irão prestar depoimento”, afirma a decisão judicial que fundamentou a operação.

O titular da DCOD, delegado Gustavo de Mello, ressaltou no texto que o uso não autorizado do imóvel configurou “ verdadeiro esbulho/invasão de um prédio público para a realização de um evento privado, contrário ao interesse público e que serviu para propagar ainda mais a doença viral", afirmou. Segundo a DCOD, a invasão do Ciep só poderia ocorrer com a “autorização” do chefe criminoso da localidade. O traficante, de acordo com a Polícia Civil, controla a região há anos. Figura como indiciado em diversas investigações, sendo um dos bandidos mais procurados do Estado.

"Verifica-se que o cenário desenhado é um dos mais absurdos possíveis, na medida em que o ‘evento contagioso’ não foi autorizado pelo Estado, mas pelo chefe criminoso local, que também teve a sua prisão preventiva decretada”, declarou o delegado.

A Justiça também decretou a suspensão das atividades da Série Gold. Assim como o bloqueio das contas bancárias dos investigados, deverá durar até que se apurem os prejuízos causados pelo crime.

Belo já cumpriu quatro anos de prisão por tráfico. Alegou ser inocente. Também foi acusado de estelionato, envolvendo a contratação de aviões para táxi aéreo. Ele negou ter cometido crime e afirmou que houve um desacordo comercial.

O Estado não localizou a defesa de Belo, para que se manifestasse sobre sua prisão. Também não obteve contato com os advogados dos outros acusados. Colaborou Wilson Tosta.

Fonte: Estadão Denise Luna 

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