MEIO AMBIENTE: VERME QUE COME PEDRA E DEFECA AREIA INTRIGA CIENTISTAS

© Buddee Wiangngorn / EyeEm/Getty Images
Algo curioso acontece em uma curta faixa de água doce nas Filipinas — uma coisa que não se repete em nenhum outro lugar do mundo. Nas margens do rio Abatan, ao longo de um trecho com extensão entre três e cinco quilômetros, as pedras mais parecem queijos suíços. Isso é obra do Lithoredo abatanica, uma espécie de molusco bivalve que tem aparência de verme. Ele não apenas cava túneis nas rochas para se abrigar, como também come pedra.
Algo curioso acontece em uma curta faixa de água doce nas Filipinas — uma coisa que não se repete em nenhum outro lugar do mundo. Nas margens do rio Abatan, ao longo de um trecho com extensão entre três e cinco quilômetros, as pedras mais parecem queijos suíços. Isso é obra do Lithoredo abatanica, uma espécie de molusco bivalve que tem aparência de verme. Ele não apenas cava túneis nas rochas para se abrigar, como também come pedra.
Mais esquisito ainda, o bicho “tritura” os minerais em seu sistema digestivo e solta areia como excremento. Identificada pela primeira vez em 2006 durante uma expedição do Museu Nacional Francês de História Natural, foi só recentemente que os pesquisadores tiveram a chance de olhar a espécie mais de perto. Cientistas dos Estados Unidos organizaram uma expedição de biodiversidade para as Filipinas.
O nome da criatura reflete suas particularidades: lito é a palavra grega para pedra, e teredo se refere aos animais da família dos teredinídeos, moluscos bivalves comuns pelos mares. E abatanica vem do nome do único rio onde ele é encontrado. De tão peculiar, o litoredo inaugurou um novo gênero na taxonomia. Apesar de parecer muito com um verme, ele não é tecnicamente um — sua classe inclui mariscos, mexilhões e ostras.
Mas seu parente mais próximo são os chamados “vermes de navio”, que há séculos são o terror dos marinheiros por comerem a madeira das embarcações e dos portos. Micróbios em seu interior transformam as lascas em uma sopa nutritiva. Não se pode dizer o mesmo das rochas. “Pedra não tem nutrientes, então não há muito ali dentro de que esse animal possa viver”, afirma em um vídeo Dan Distel, da Universidade do Nordeste, em Boston.
Reprodutor de vídeo de: YouTube (Política de Privacidade)
“Isso nos diz que ele está fazendo algo a mais, e deve ser muito interessante”, diz o diretor do Ocean Genome Legacy, co-autor do artigo publicado nesta quarta (19) no periódico Proceedings of the Royal Society B. Ambos os moluscos ficaram parecidos com vermes porque a evolução deixou seus corpos alongados demais e suas conchas pequenas demais. Elas ganharam novas funções: escavar pedras e lascar madeira.
Algumas espécies dessa família são enormes, incluindo o maior bivalve da natureza, que tem um metro e meio de comprimento e vive na lama dos mangues. L. abatanica é bem menor, com cerca de 10 centímetros apenas. Análise de seu trato digestivo mostrou que a rocha calcária de que ele se alimenta não é de fato digerida.
Os sedimentos saem do mesmo jeito que entraram — só que triturados. Moendo a pedra em areia, o verme contribui para aumentar o substrato do fundo do rio, podendo até influenciar no fluxo do Abatan. Agora os cientistas querem aprofundar o estudo para descobrir como os túneis escavados abrigam outras espécies e interferem na ecologia local.
Mas, principalmente, pretendem descobrir o que é que o litoredo come. Eles especulam que seja através de algum mecanismo parecido com o de seus parentes maiores, no qual as bactérias desempenham um papel fundamental. Além de entender melhor a família dos teredinídeos, será possível descobrir como esse animal desenvolveu a habilidade de moer pedra — algo completamente inusitado.
Fonte: Super interessante/André Jorge de Oliveira

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